Acredito que muita gente fica mais sensível nessa época do ano, e eu fiquei mais ainda.
Sou eu que saio para fazer as compras de Natal, ajudo a fazer os pratos delícias e dessa vez eu não conseguia fazer nada. Não consegui nem fazer as compras pela internet, na verdade nunca gostei de comprar de última hora porque nunca chega e você fica com cara de pata quando recebe os seus presentes.
Minha mãe já não sabia mais o que fazer e tentava me animar de qualquer maneira. Disse que se eu não melhorasse nem para a casa dos meus tios passar o Natal iríamos. E confesso que eu não conseguia nem raciocinar. Eu não queria ir, não queria que as pessoas me encontrassem no estado lastimável que me encontrava, então para mim, tanto faz quanto tanto fez ir na nossa reunião de Natal.
No final das contas, acabamos indo para a casa dos meus tios, onde toda família estaria lá. Eu fui praticamente de pijama, nem um batonzinho eu passei. Todos estavam tão lindos, perfumados, cabelo incrível e com muitas novidades. E eu também gostaria de estar assim, feliz, linda, arrumada, perfumada, mas eu juro que não conseguia, e isso só me fazia chorar.
Quando chegamos na casa dos meus tios, fomos recebidos por eles e nesse momento já percebi pela expressão deles sua preocupação, porque eles viram meu irmão me ajudando a ultrapassar os degraus e me dando apoio para eu não cair na frente deles. Não conseguia nem ficar em pé para ganhar um abraço. Tudo tão triste.
Assim que cheguei fui para a sala e lá fiquei, todos estavam no salão conversando e comendo, mas qualquer cheiro de comida era náusea na certa, e como não queria que ninguém me visse pior do que eu estava, resolvi não descer. E outra, eu teria que descer sentada e pedir ajuda para o meu irmão para subí-las. Também não conseguia ficar muito tempo sentada porque me cansava, então era só trabalho para todos e vergonha para mim.
Uma das irmãs do meu tio, é psicóloga e atende justamente obesos e ex-obesos no Hospital das Clínicas, aqui em São Paulo, e ficamos conversando um pouco e já comecei a chorar, porque eu me cansava demais, e ela suspeitou que eu estava no início de uma depressão, e que isso é muito comum em pessoas operadas.
Minha tia (e madrinha) veio falar comigo, dizendo que ela queria que eu fosse no médico dela o quanto antes, que o que eu estava sentindo não era normal e que se fosse preciso também ia pedir uma indicação de um psicólogo para me ajudar se fosse preciso.
Para me agradar, ela veio me dizer o que tinha de comidinha delícia e que faria um pratinho com o que eu gostaria de comer. Ai gente, ela foi falando e as náuseas vieram junto, ela ficou tão triste. Minha tia foi uma das pessoas que mais me incentivaram a fazer a cirurgia, que eu ficaria ótima e resolveria o problema do peso de uma vez por todas, dizia que as doenças hereditárias poderiam nem surgir, enfim, que meus problemas estariam bem menores. E percebi que ela se sentia um pouco culpada com o que estava acontecendo comigo, mas isso tudo foi uma fatalidade, ninguém poderia prever.
Então, fui para o quarto da minha avó me deitar e sempre iriam lá me ver para ver se eu conseguia comer, e nada.
Eles me diziam que queriam a velha Tatíííí de volta, e minhas lágrimas só rolavam. O calor estava insuportável e com a super emoção rolando solta, boca, pés e mãos formigavam mais ainda e entortava.
Enfim, chegou o momento de distribuição dos presentes e meus tios me trouxeram da viagem um relógio perfeito da Anne Klein e um perfume da Versace. Meus outros tios e minha avó me deram tutu ($$)!!!
Quando meu pai era vivo, ele se vestia de papai noel TODOS os anos, mesmo depois que todos nós sabíamos que ele era o papai noel, era tão divertido gente!! Vocês não tem dimensão da alegria que era nosso Natal!
Meu papi tirou férias, e o cargo de noel ficou com a minha vó e meu tio, irmão do papi. Ele é bem tímido, e fica mais engraçado ainda de papai noel!!! Essa minha família é maravilhosa! Amo todos eles!!
Eu sempre me jogo no colo quando me chamam para receber um presente e dessa vez, eu não consegui sair do quarto da vó. Depois minha tia/madrinha foi me levar os presentes no quarto para eu ver.
Já no dia de Natal, continuamos nossa reunião e voltamos para lá para almoçarmos e passar o resto do dia juntos. Meu irmão dessa vez, foi para a casa da namorada e a princípio minha mãe e eu ficaríamos em casa, mas um dos meus primos veio nos buscar. Estava tão quente que já comecei a passar mal no caminho. Cheguei e fui direto para o quarto da minha vó que é bem fresquinho. Nesse dia não tentei comer nada salgado, comi só frutas e tomei água. No final do dia, meu primo nos trouxe para casa e mais uma vez o formigamento muito forte me atormentava, minha mãe estava cheia de marmitas e eu fui abrir o portão e acender as luzes para ela entrar quando eu caí.
Meu primo se assustou, porque eu pedi para ele me ajudar, já que eu não conseguia mais me levantar sozinha. Ele me ajudou a levantar e ir para a sala. Fiquei com os joelhos e as mãos raladas. Uó.
mante-los na mesma posição e eles dobravam de uma vez e eu despencava. Aí era uma "bundada" no chão, que também estava roxo. O resto do caminho eu fazia engatinhando e caindo, porque perdia o equilíbrio.
E assim foi meu Natal.
Meu ano novo já não arrisquei sair de casa. Fiquei aqui e assisti toda programação da TV. Na verdade eu nem saí do quarto, porque meu irmão havia viajado. Eu tinha trocado o dia pela noite, que acabava ficando mais deprimente ainda, e algumas frutas eu comecei a não comer mais por conta do cheiro. Laranja, mexerica, melancia, banana, etc. O que eu mais ingeria era limão.
Limonada sem açúcar ou adoçante e água gelada. Era esse o meu alimento.
E foi assim que começou meu 2011.
Quem quiser saber como foi o pós-cirúrgico em 2010, é só clicar AQUI.
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