Segundo Mês: Parte III

Perdeu algum capítulo pós-cirúgico? Então passa AQUI e confira tudo que contei até agora dessa novela.

Sem respostas, cada dia era um desespero. Até que pela terceira vez a nutricionista mudou o suplemento alimentar. Era a última cartada para tentar me sentir melhor, mais disposta, mesmo o suplemento tendo o pior gosto do mundo (e tinha!). Eu já havia desistido de tomar o Centrum, mesmo a médica me liberando para tomar um pouco mais de líquido o comprimido não descia nem com reza.
O suplemento que a nutricionista me receitou é o mesmo que atletas o frequentadores de academia tomam, ou seja, para uma pessoa saudável que absorve todos os nutrientes dos alimentos, óbviamente não era para o meu perfil. Quem me falar que suplemento tem um sabor apresentável eu belisco! Juro! É a coisa mais horrível do mundo. E para dar uma enriquecida, minha mãe batia no liquidificador com leite e uma fruta. Era apenas 1 copo de 250ml e eu não conseguia beber. Não só pelo gosto horripilante, mas porque eu me sentia muito mal.

A única coisa que eu ouvia da nutricionista era: "Você tem que tentar" - "Seu problema é psicológico".

Então, eu tentava, tentava e tentava. Porque minha família ouvia que eu tinha que tentar e que era psicológico, aí era mais meia italianada pegando no meu pé para eu tentar. Eu conseguia tomar metade do copo, isso o dia inteiro, era meu único alimento. O pior de tudo.
Uma das minhas tias avós, até sugeriu para irmos ao McDonald's (Tia Janda, é claro!), primeiro que eu não conseguia, e segundo só de pensar em algum cheiro, eu já nauseava. Gente, eu não tenho palavras para descrever essa fase da minha vida.
E não foram alguns dias, foram semanas assim.
Até que minhas licenças médicas acabaram, e eu tinha que voltar a trabalhar. Não conseguia tirar férias porque faltavam muito tempo para vencerem e eu também não queria entrar no INSS porque ainda tinha esperanças de acordar mega disposta e voltar a vida que eu tinha antes.
No escritório onde trabalho só tem escadas. Para chegar a recepção, para ir ao banheiro, sala de reuniões, copa, laboratórios, tudo você consegue só se for de escadas. No dia que voltei ao trabalho estava chovendo muito, e já comecei a passar mal na ida, e é super pertinho, demoro 15 minutos de casa para o trabalho e o caminho parecia interminável.
Minha mãe e alguns amigos ficaram super felizes por pelo menos eu tentar ir ao trabalho, mas eu já havia combinado que iria ficar na sala de reuniões porque não conseguia subir tantos lances de escada. E eu não tinha força para nada, nem para atender ao telefone.
Fiquei o dia todo na sala de reuniões trabalhando por lá, algumas pessoas vinham me visitar e mesmo tentando disfarçar elas não conseguiam. Quando abriam a porta e viam o meu estado, o choque deveria ser grande, porque a cara que faziam, não eram das melhores. E todos tentavam me animar, mas eu não conseguia. Era náusea em cima de náusea.
No horário do almoço eu subi até o banheiro feminino, onde tem uma área com sofás e lá fiquei por pouco mais de uma hora deitada, ainda na esperança de permanecer melhor o resto da tarde, que foi totalmente em vão.
Até que para descer as escadas tive que pedir ajuda e rezar para não me dar um treco no caminho de volta. Decidi então, não voltar mais ao trabalho e procurar ajuda em outros médicos.

Meio tarde para isso né?! Mas, eu merecia um desconto, não conseguia nem raciocinar.
Minha tia/madrinha então disse que eu deveria passar com o médico de sua confiança, um ortomolecular. Ela passou meu caso para ele, que me solicitou uma dezena de exames para que eu levasse já na minha primeira consulta, assim o início do tratamento seria mais rápido. E ele já nos adiantou que o suplemento alimentar e o Centrum não me adiantariam em nada, que tudo deveria ser muito mais específico.

Nessa altura do campeonato eu não ingeria mais nada.
Apenas 1 yakult por dia ou uma maçã ou suco de limão ou laranja ou tangerina (mexerica vai!), nada de salgado.
Eu sempre gostei de frutas azedas sabe, nada de açúcar ou bem pouquinho. E como a nutricionista proibiu o açúcar e eu ODEIO adoçante, preferia sem nada mesmo. E não é tão ruim quanto se parece quando você não tem outra opção. Você aprende a gostar do verdadeiro sabor das coisas.

Os dias iam passando e eu ia ficando mais enjoada, até do meu hálito ao acordar era motivo para me sentir mal.
E o cheiro que mais me incomodava? Aquele cheiro de alho e cebola sendo refogados para iniciar o preparo de um arroz ou feijão sabe? E é o cheirinho que abre o apetite de qualquer pessoa não é mesmo?!

Minha mãe e meu irmão já não comiam mais em casa, nada de cozinhar, fritar, esquentar, descongelar, tudo me fazia mal, mas muito mal.
Até o cheiro da geladeira me causava náuseas.
A única coisa que eu conseguia era beber água, mas também tinha que ser estupidamente gelada, em dias frios ou quentes, a água tinha que ser quase congelada. Aí eu tomava água até de madrugada, mas também não conseguia ser AQUELE gole de dar gosto, eram em pequenas quantidades, mas me deixava satisfeita.