terça-feira, 15 de outubro de 2013

Reportagem: A transformação psíquica e do estilo de vida pode levar anos

Um reportagem super bacana para quem está pensando em fazer a cirurgia, ou quem já fez e ainda tem algumas dúvidas.



Cynthia Bffington - Diretora de pesquisa e educação do Instituto de Saúde em Cirurgia e Medicina Metabólica do Hospital Celebration Flórida (EUA)


Após participar do XV Congresso Brasileiro de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, a especialista Cynthia Bffington traz neste Dia Nacional de Prevenção à Obesidade os principais aspectos referentes ao procedimento, que começou a ser feito no país há 40 anos.

Mais de 40 anos após o primeiro procedimento de cirurgia bariátrica ter sido realizado de forma pioneira no Brasil – na década de 70 –, ainda são muitas as dúvidas que envolvem a intervenção. Para esclarecer algumas dessas questões, a especialista Cynthia Bffington, diretora de pesquisa e educação do Instituto de Saúde em Cirurgia e Medicina Metabólica do Hospital Celebration, na Flórida (EUA), falou com exclusividade a O TEMPO sobre importantes aspectos, como o da redução de incidência de câncer em pacientes submetidos à cirurgia, a sensibilidade ao álcool e a necessidade de uma reeducação nutricional gradual e contínua para o início de uma grande mudança de hábitos.
Qual a relação da redução de incidência e de morte por câncer em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica? O risco de mortalidade devido a alguns tipos específicos de câncer aumenta significativamente com a obesidade, especialmente com a obesidade mórbida. Cânceres dos sistemas digestivos (estômago, colorretal, fígado, pâncreas etc) e reprodutivos (próstata, ovário etc), câncer de mama, na tireoide e no sangue são alguns tipos que possuem conexão direta com o excesso de peso. Os estudos mostram diferentes aspectos que revelam os benefícios da cirurgia bariátrica e metabólica no combate à doença. Uma pesquisa sobre causas de mortalidade em longo prazo após a realização do bypass gástrico revelou diminuição de 60% de mortalidade por câncer. Outra pesquisa sobre a mortalidade de indivíduos obesos na Suécia, que realizaram a cirurgia bariátrica e metabólica, mostra redução de 42,5% de mortalidade por câncer.
Existem dados recentes que mostram a incidência de ganho de peso após a cirurgia bariátrica em pacientes que não tiveram orientações de cunho nutricional e de estilo de vida? Dados mais recentes revelam que, em média, entre 15% e 20% dos pacientes recuperam o peso de maneira significativa. Reganho de peso de até 10% do peso perdido pode ser considerado normal e faz parte de uma adaptação do organismo. A meta da cirurgia não é fazer com que o paciente atinja seu peso normal, mas reduzir de 70% a 80% o excesso de peso.
No caso dos pacientes que tiveram orientações de cunho nutricional e de estilo de vida é comprovado que as mudanças foram eficientes para a perda e manutenção do peso. Quais dados comprovam esses benefícios? Pacientes com maior adesão ao programa nutricional têm 28% mais sucesso (na manutenção do peso perdido) do que pacientes que não aderiram à dieta indicada pelo nutricionista após a cirurgia bariátrica.
Quais os impactos dos procedimentos bariátricos em todo o organismo do paciente? De maneira rotineira, após a cirurgia, o paciente deve passar por consultas e exames laboratoriais conforme estabelecido pela equipe multiprofissional. É muito importante salientar que a dieta líquida deve ser seguida rigorosamente nos primeiros dez dias. Após esse período, será adotada nova orientação nutricional com evolução da dieta. Raramente, a cirurgia pode gerar complicações, tais como: infecção, entupimento de vaso sanguíneo (tromboembolismo), separações (deiscências) de suturas, desprendimento do grampo (fístulas), obstrução intestinal, hérnia no local do corte, infecções internas (abscessos) e pneumonia. Após a cirurgia bariátrica, alguns pacientes podem necessitar de cirurgias plásticas para remoção do excesso de pele. Entendendo que a cirurgia bariátrica é apenas o primeiro passo da cura da obesidade, o nutricionista tem papel fundamental no acompanhamento do paciente. Ele deverá reaprender a se alimentar (pouco e em horários alternados durante todo o dia) e optar por alimentos pouco calóricos e com alto teor vitamínico. A reeducação alimentar ajudará não só a perder peso, mas também a mantê-lo por toda a vida. O paciente não está proibido de consumir doces, refrigerantes ou outras guloseimas de vez em quando. O acompanhamento psicológico tem o objetivo de conscientizar sobre a nova realidade. Com o novo peso, os relacionamentos familiares e sociais também se transformam, pois a relação do indivíduo consigo mesmo também se altera. É difícil imaginar que, ao emagrecer, algo pode piorar, mas novos transtornos de humor, entusiasmo e distúrbios da autoimagem podem surgir (estresse, ansiedade, ciúmes do parceiro, rivalidade, desejo de liberdade etc). Alguns pacientes criam expectativas exageradas, acreditando que apenas a cirurgia vai levar ao resultado esperado, gerado a partir da perda de peso. Muitas vezes, seus problemas dizem respeito a traumas anteriores. Se, por um lado, a cirurgia demora, em média 90 minutos, a transformação psíquica e do estilo de vida de uma pessoa pode levar anos. É preciso acompanhamento constante para manter alta a motivação do paciente.
Procedimentos bariátricos, que alteram a anatomia gastrointestinal, tais como bypass gástrico, aumentam a sensibilidade ao álcool. Por quê? Isso acontece porque o desvio intestinal da técnica provoca uma absorção mais rápida do álcool pelo organismo. O bypass envolve também restrição do estômago (é criado um pequeno reservatório gástrico – 10% do estômago). Dessa forma, a comida não passa pelo duodeno, e os alimentos, através do pequeno desvio do intestino, chegam mais rapidamente à porção final do intestino delgado, liberando hormônios do intestino que acarretam saciedade. As recomendações são: não consumir bebidas alcoólicas no período de rápida perda de peso; quando beber, lembrar-se de que pequenas quantidades de álcool podem causar intoxicação.
Quais outros alimentos e bebidas não são recomendados? Alimentos hipercalóricos, com altas taxas de glicose (leite condensado), gorduras trans (salgados, frituras) e embutidos (salsichas, linguiças). É indicada uma combinação dos fatores “estilo de vida” e “alimentação”, pois ajudam a evitar o reganho de peso e a atingir a meta da redução do IMC (Índice de Massa Corporal). São elas: a redução do estresse, uma boa qualidade do sono (sete a oito horas noturnas), a prática regular de atividade física e o consumo de alguns alimentos em quantidades determinadas e com preparo específico.
O papel da compulsão alimentar deve ser avaliado na hora de decidir se o paciente deve ser operado? Sim, mas ela não exclui a indicação para a cirurgia bariátrica. As comorbidades psiquiátricas (como o Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica – TCAP)deverão ser avaliadas por psiquiatra e requerem acompanhamento pós-operatório.
Quais as características ideais para que um paciente realize uma cirurgia bariátrica? Quando o médico e o paciente se convencem de que se esgotou a tentativa de tratar a obesidade exclusivamente pela mudança do estilo de vida, uma das alternativas mais eficazes é recorrer à cirurgia bariátrica e metabólica. Em relação à idade, abaixo de 16 anos, o Consenso Bariátrico recomenda que os riscos sejam avaliados pelo cirurgião e por uma equipe multidisciplinar. Acima de 65 anos, deve-se fazer avaliação individual pela equipe multidisciplinar, considerando risco cirúrgico, presença de comorbidades, expectativa de vida, benefícios do emagrecimento.



Fonte: O Tempo

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